Único, Original, Forever

- Pai, eu quero um biquini novo...
- Mas filha, você comprou um não faz nem um ano!
- Mas pai, eu preciso de um biquini novo!
- Ta, vai, compra um biquini maior...
- Não pai, um menor.
E o pai não entendia nada (...)



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segunda-feira, 5 de abril de 2010



Umas palavrinhas sobre

Ônibus & Glamour

Tenho que admitir que deve ser falta de costume da minha parte, mas deve ser assim para toda debutante, pré-debutante e pós-debutante, um passeiozinho no furgão do demônio. Perdão, ônibus municipal. Se você já andou nisto aí, vai se identificar com o seguinte relato:
O dia anterior já terminou torturante:
" Natali, você tem que acordar cedo amanhã porque o seu pai está viajando e não vai chegar nem tão cedo... " Tradução: " Natali, amanhã tu vai de buzão pra escola. "

Eu não sei nem porque a minha mãe enrola tanto para falar isso. Eu sabia que meu pai não estava em casa e não iria estar até amanhã ás sete horas da manhã. estudar de manhã é fogo. Mas tudo bem , eu disse para mim mesma, vai ser rápido, você consegue.

Rápido mesmo foi a noite que passou voando. Já é bem terrível levantar da cama todo dia ás seis horas, imagina então acordar ás cinco e meia? Foi a hora que aquele despertador maldito tocou, com aquela musiquinha irritante e ridícula que vem em todo celular.

Primeiro pensamento: " Meu Deus, é madrugada! "

Segundo pensamento: " Quem foi o capeta que colocou esse cão para despertar? "

Terceiro pensamento ( o mais envergonhado ): " Ah, foi eu. "

Quarto pensamento: " A hora desse celular deve estar errada... ainda está escuro. " Tradução: " Tô com a maior preguiça de levantar. "

É incrível o cérebro humano. Consegui pensar em tudo isso nos três segundo sucessores ao " Beift " que o celular fez ao, eu, calma como sempre, arremessá - lo a uns cinco metros de distância.

Eu tentei, inutilmente, fingir que era um pesadelo e continuar dormindo. No fundo é sempre só para aproveitar mais um pouquinho o sono maravilhoso que descansa até a alma. Se bem que, nessas horas, não sei porque, a cama está sempre mais macia e quentinha, o ar está sempre mais frio, o ambiente fica sempre mais escuro e etc, fazendo você ficar com muito sono e não levantar. E pior que isto, não querer levantar. Isso é perturbador. Se eu não fosse uma pessoa tão concentrada no meu eu interior, eu choraria. Mas como sou uma menina que não adia compromissos, levantei sem nem olhar para trás ( detesto despedidas tristes ).

Em resultado do meu esforço impressionante, cheguei ao ponto do ônibus ás seis e quarenta e cinco. Um sol de arder na pele, efeitos do aquecimento global, todos nós sabemos, nem mesmo o sol da manhã, que deveria ser agradável, escapa de nos fazer suar e feder, que é uma das coisas que eu mais detesto na vida: suor e fedor. Até aí tudo bem, corri o mais depressa possível a procura de uma sombra para me abrigar.

Seis e quarenta e cinco, seis e cinquenta, seis e cinquenta e cinco... Nada do ônibus. Eu tive a impressão de que se eu estivesse ido andando até o colégio eu já teria chegado lá, porém, levando em consideração as duas coisinhas que eu mais detesto no mundo, eu desisti. No meio tempo que o ônibus atrasou, eu pude notar muitas coisas ao redor, a padaria abriu, o movimento de carro na rua aumentou, pessoas começaram a passar para lá e para cá, o caminhão do lixo passou e nada do danado do ônibus. E eu começando a ter minhas crises de calor e agonia com as primeiras gotículas de suor se formando nas minhas costas. É agonizante pensar.

Por fim, lá vem ele... lindo, verde e... lotado. A moça que recebe o dinheiro, que eu não sei o nome, pura falta de experiência, não tinha troco para mim, então a fofa deu todo em moeda. Imagine só a minha situação, ônibus lotado, dois livros na mão, a bolsa de lado... Meus amados leitores, agora respondam: Para que, para que eu fui soltar o ferro da cadeira na minha frente para pegar as moedas? Para que eu fui fazer isso?

" Bunft " O ônibus começou a andar descontroladamente e o motorista deu um freio horroroso, que eu fiquei parecendo bola de pimbal, para lá e para cá. Perdi o controle dos meus pés, quase caio e ainda por cima, juro que perdi uns cinco reais pelo chão. Um super sacrifício para ficar em pé, e eu ainda tentava, em um esforço inútil, segurar a franja. Quando consegui me controlar, me concentrar e me fixar em um local só, quando enfiei a mão cheia de moedas no bolso, respirei fundo e ajeitei a franja, o ônibus parou em outro ponto e pegou a torcida do flamengo. Deus, é o Apocalipse! Que superpopulação! Existe tanta gente assim mesmo em Caruaru? O aperto tomou conta, o calor humano ficou quase insuportável. Eu podia sentir a pele de todo mundo, macia, crespa, suada... Tinha de todo tipo e de todo jeito.

O pior mesmo foi o cheirinho desagradável de muita gente ali. Claro, tinha gente lá, limpinho, cheirozinho, prontinho para ir trabalhar ou estudar. Mas entrou gente que parecia que estava indo para a terceira guerra mundial. Uma senhora de uns quarenta e pouco na minha frente deu um grito para algum parente do lado de fora, em que ela esticou tanto a boca que eu vi todas as cáries, próteses, albiturações, canais, viadutos, pontes... Enfim, a santa ainda cuspiu em mim sem querer e sem pedir desculpa: " Eita, cuspi na menina aqui... " Falou ela toda educada. Eu olhei para o outro lado rapidamente antes que ela visse a minha cara de quase choro. " Jesus... tem saliva alheia na manga da minha blusa. "

Se o motorista não estivesse bêbado estaria drogado. Nunca vi homem para dar tanta freiada e acelerada juntas. Mal cabiam pessoas ali dentro, e todas caindo umas por cima das outras, imagine só? Eu, torcendo para o fofo de cinco anos no braço da mãe não vomitar no meu cabelo. Isso porque ele foi o tempo inteiro reclamando que estava enjoado.

No meio das minhas náuseas, me segurei firme e fixei o olhar para o lado de fora. Comecei a lembrar das minhas ultimas experiências com ônibus. Para que ninguém comece a me julgar prematuramente, eu vou logo dizendo que tenho medo de ônibus desde criança. Quando eu tinha quatro anos, a minha mãe me disse: " Filha, entre por aquela porta que a mamãe vai entrar por essa aqui. " Tudo bem, lá vou eu com minhas trancinhas e meu vestidinho, muito linda, entrar por aquela porta e... não avistar a minha mãe. Esperei, esperei. O ônibus começou a andar e ela não entrou pela outra porta. O choro sufocou no meio da garganta junto com o grito que deveria ter saído. E eu só fiquei quietinha, sentada na cadeira, com o rosto grudado no vidro e chorando para me acabar. Eu só não consegui pensar para onde eu iria com quatro anos e nenhuma experiência de vida pelo mundo afora esperar a bondade do destino.

Caro leitor, se você está com vontade de chorar, não chore. Eu sei que foi muito triste, mas se essa história tivesse um fim trágico eu não estaria aqui contando ela agora, estaria?

No fim, eu ouvi a minha mãe me chamando. Meu nome e a voz dela. Eu estaria sonhando? Era do meu subconciente? Eu estava ficando louca então? Nem pensei nisso, eu só tinha quatro anos, me virei, corri e abracei ela com toda a força que eu ainda tinha.

Meu segundo trauma foi mais simples. Eu já era bem grandinha, acho que faz uns dois anos no máximo. Eu fui toda alegre, me sentindo super independente andar de ônibus sozinha. Paguei, sentei, fixei o rosto no vidro e me perdi no meio do tempo de um jeito que nem nos meus sonhos eu já tinha visto. Viajei na maionese, no catchup, na mostarda, em tudo que você imaginar. Passei do ponto que eu deveria descer e fui descer dois pontos depois. por acaso, eu estava indo para o colégio.

É , experiências traumatizantes. Mas antes que isso fosse acontecer novamente, eu apertei o lindo botão vermelho com a letra P . Ele parou, eu fui me enroscando por onde tinha espaço no meio da multidão, consegui sair, inspirei o ar maravilhoso da liberdade e cheguei bem na hora que o sinal tocou.
O que seria da nossa vida sem os ônibus?

Sorrindo, fui assistir a minha aula de história. E sabe porque eu fiquei assim? Porque minha viagem na invenção dos anjos ( o ônibus ), me deu inspiração para escrever isto aqui, que vocês acabaram de ler.


Me perdoem pelas palavrinhas indignas de uma garota doce como eu e indignas de olhos doces como os seus, leitores amados.


Maria Natali Gomes dos Santos, dedica este texto a todos aqueles sortudos que já andaram, andam ou ainda vão andar de ônibus.

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